O Garoto dos jornais

 

Já era quase hora do almoço quando Rubinho vendeu seu último jornal. Como todos os dias tinha saído de casa junto com sua mãe as seis horas da manhã, caminhado por quase uma hora até o distribuidor onde comprava os jornais. Depois de comprar os jornais, Rubinho ainda tinha caminhado mais dez minutos até a praça onde colocou seus jornais sobre um caixote para os vender. Com todos jornais vendidos só restava ir até o bar do Seo Joaquim para guardar seu caixote, e depois caminhar de volta para sua casa.

Com a idade de dez anos Rubinho não tinha infância, pela manhã vendia jornais, a tarde ia para a escola., saindo da escola fazia seus deveres escolares e dormia cedo já que no dia seguinte tinha que levantar as cinco horas da manhã.

A mãe de Rubinho não queria que o filho perdesse a infância vendendo jornais, mas ela própria tinha que trabalhar duro para pagar o aluguel e sustentar a ambos, logo não tinha muito tempo para exercer seu papel de mãe, e assim preferia ver o filho vendendo jornais do que aprendendo o que não devia com a molecada do bairro. Outra preocupação da mãe de Rubinho eram os sequestros de crianças que vinham ocorrendo nos bairros da periferia. O esquema era sempre o mesmo, uma pessoa, normalmente uma mulher fazia amizade e ganhava a confiança da criança. Depois a levava à um lugar qualquer onde a criança era colocada dentro de um automóvel que desaparecia levando a criança. A polícia suspeitava que esses sequestros eram feitos pelos membros de uma quadrilha desbaratada um ano antes que conseguiram escapar para a Europa. Uma das características dessa quadrilha era que antes do sequestro tinham coletado amostra de cabelos de todas as crianças para traçar um perfil genético. Na ocasião houveram relatos que mães solteiras também haviam desaparecido junto com seus filhos.

Rubinho tinha seus sonhos. Certa vez assistindo um filme na TV viu um médico que ajudava muita gente e perguntou para sua mãe o que precisava para ser médico. Sua mãe respondeu que precisava estudar muito anos em uma faculdade, então Rubinho decidiu que queria ser médico. Desde então Rubinho guardava tudo o que ganhava vendendo jornais para pagar a faculdade. Sua mãe achou graça da ingenuidade do filho, mas mesmo assim decidiu apoiar a sua ideia, abriu para ele uma caderneta de poupança onde depositava todo dinheiro que ele lhe entregava, e mais um pouco quando conseguia economizar.

Logo que saiu do bar do Seu Joaquim um rapaz o abordou dizendo:

—Ei garoto dos jornais, aquela senhora sentada no banco lá na praça não me parece bem, por que não dá um pulo lá ver se ela precisa de algo?

—Tenho que ir para casa senão perco a hora da escola—, respondeu Rubinho. —Por que o senhor não vai até lá.

—Tenho que correr até a porta da escolinha pegar meu filho, ele não pode ficar lá além do horário.

—Rubinho achou estranha aquela conversa, mas mesmo assim foi até a praça, parou ao lado da senhora dizendo:

—Vovó, a senhora não está se sentindo bem? 

—Acho que você nem sabe o que é, mas estou tendo uma crise de labirintite e estou com medo de atravessar a rua para voltar para minha casa.

—Eu posso dar a mão para a senhor e ver se está vindo algum carro.

—Você é um anjo. Por favor me ajude a levantar. Meu nome é Clotilde, e qual o teu?

—O meu é Rubens, mas pode me chamar de Rubinho.

—Rubinho? O mesmo nome do meu filho.

Quando chegou na porta da casa Dona Clotilde convidou Rubinho a entrar e tomar um suco.

—Não posso Vovó, tenho que caminhar por uma hora até chegar em casa em tempo de ir para a escola.

—Vai a pé? Por que não pega um Ônibus?

—Porque se eu for de ônibus vou gastar metade do que ganhei vendendo jornais.

—Entre Rubinho, eu te dou o dinheiro do ônibus, mas por que está me chamando de vovó?

—É que além da minha mãe não tenho mais ninguém, nem pai, nem avós, nem irmãos ou primos. Minha mãe me ensinou a chamar as pessoas bem mais velhas de vovô e vovó.

—Bom, se você não tem avós se quiser posso ser tua avó postiça.

Quando entrou na sala Rubinho viu na estante um porta-retrato e perguntou:

—A senhora conhece esse moço? Foi ele que me pediu para ajudá-la.

Parecendo surpresa Dona Clotilde disse:

—É filho de uma grande amiga. Tem certeza que foi ele mesmo?

—Tenho sim vovó, ele me pareceu bem legal.

—Você disse que não tem pai. O que aconteceu com ele?

—Ele morreu antes de eu nascer.

—E seus avós?

—Minha mãe disse que todos já morreram, e ela não tem irmãos, tios e nem primos.

—Por que você vem de tão longe vender jornais?

—Onde eu moro ninguém lê jornal, e eu quero juntar dinheiro para quando for grande estudar em uma faculdade.

Dona Clotilde deu a Rubinho um copo de suco de laranja e alguns biscoitos, depois conversaram mais um pouco e ela lhe deu o dinheiro do ônibus para ele ir embora, e também para vir no dia seguinte.

—Sou uma velha doente e solitária, venha amanhã de novo para a gente conversar um pouco mais.

A noite na sua casa a Mãe de Rubinho ficou preocupada. Quem era aquela velhota e por que estava agradando seu filho?

—Rubinho. Gostaria de conhecer tua mãe, se você me der o endereço qualquer dia desses vou na tua casa. —Disse Dona Clotilde quando Rubinho a visitou no dia seguinte.

—Só se for no domingo à tarde. Minha mãe trabalha todos os dias, sábado faz faxina na casa e domingo pela manhã vamos na missa.

— Então pergunte a sua mãe se posso visita-la no domingo à tarde.

—Vovó, esse filho da sua amiga mora aqui por perto?

Mais uma vez dono Clotilde pareceu surpresa com a pergunta.

—Por que está me perguntando isso, ele está te incomodando?

—Não vovó, é que algumas vezes já vi ele parado na porta da sua casa, em outras em pé lá na praça e parece que está sempre olhando para mim.

—Não se preocupe com isso, tenho a certeza que ele não quer te fazer nenhum mal.

—A senhora tem carro vovó?

—Não. Por que pergunta?

—Por que na sua casa tem garagem.

Dona Clotilde riu e disse: —Ali na frente não é uma garagem, ali tinha uma loja de vender bolos, mas a Dona mudou para outro estado e eu resolvi não alugar a loja por enquanto.

—Puxa, que legal! Minha mãe também faz bolos e doces, ela trabalha há muito tempo em uma confeitaria.

—Mais uma vez Dona Clotilde riu enquanto dizia: Ali na loja tem cozinha, quem sabe eu não alugue para tua mãe fazer e vender seus bolos?

—E aí eu vou poder para de vender jornais.

—Você não gosta de vender jornais?

—Até que não é muito ruim, mas tenho que levantar muito cedo e por aqui ninguém me chama pelo nome, só me conhecem como o garoto dos jornais.

 E assim, dia a dia Dona Clotilde ganhava o amor e a confiança de Rubinho.

Conforme combinado, na tarde do domingo Dona Clotilde foi à casa de Rubinho.

—Boa tarde, a senhora é a mãe do Rubinho? Não sei seu nome porque ele só a chama de mãe.

—Boa tarde, a senhora deve ser Dona Clotilde, sou Ester, mãe do Rubinho. Entre por favor.

De imediato houve uma empatia entre as duas, em poucos minutos já conversavam como se fossem velhas amigas.

—Gosto muito do seu filho, ele é muito bom e educado, só fico intrigada que ele só tenha a senhora como família.

Sentindo-se meio que constrangida por não poder falar a respeito do assunto na frente do filho, Ester disse:

—A senhora gosta de chá com bolo?

—Adoro.

—Então vamos para a cozinha—, disse Ester, e chamando o filho completou. —Rubinho, vá até o armazém da esquina e compre um quilo de açúcar. Peça para o seu Maneco colocar na minha conta.

—Matando sua curiosidade sobre minha família—, disse Ester— na verdade eu tenho pais e um irmão, só que moram em outro bairro distante daqui. Rompi o relacionamento com minha família quando fiquei grávida do Rubinho.

—Importa-se em falar a respeito?

—Hoje já não me importo com mais nada, só não quero que meu filho saiba a verdade antes da hora.

—Se quiser se abrir comigo, talvez faça bem para a senhora.

—Minha história é curta, não tem muitos detalhes. Na ocasião eu tinha apenas dezoito anos, morava longe daqui e tinha acabado de entrar na faculdade. Uma colega de classe promoveu uma grande festa para os calouros, e lá conheci o Rubens, pai do Rubinho. Ele era dois anos mais velho que eu e começamos namorar ainda naquela noite. Já estávamos com dois meses de namoro quando transamos pela primeira vez, e no fogo da paixão esquecemos completamente de usar preservativo. Eu amava o Rubens, era minha primeira vez, quem ia se lembrar de preservativo. Na segunda vez que fizemos amor usamos preservativo, mas o estrago já tinha sido feito. Quando minha menstruação já estava atrasada dez dias, comprei na farmácia um teste de gravidez, e fiquei horrorizada ao descobrir que estava grávida. Sabia que meu pai ia ficar uma fera, contei ao Rubens e juntos decidimos que, meu pai aceitando ou não eu teria a criança. Nesse dia o Rubens disse que falaria com a mãe dele que com certeza nos apoiaria. Foi a última vez que o vi.

—O que aconteceu?

—Não sei. No dia seguinte ele não deu notícias, quando tentei ligar o telefone dava desligado ou fora de área.

—Não tentou localizá-lo?

—Sei que fui irresponsável, não sabia o endereço dele, aliás, nem seu nome completo, ninguém dos meus amigos o conhecia, ele tinha ido naquela festa junto com outra pessoa que ninguém sabia quem era.

—E tua família como reagiu.

—Meu pai me deu uma surra tão violenta que fui parar no hospital, desde então nunca mais os vi. Saindo do hospital fui parar em um abrigo provisório patrocinado por uma ONG. Durante os nove meses de gravidez trabalhei na cozinha deles. Quando Rubinho Nasceu, uma vereadora me trouxe para esta casa, conseguiu um berçário para o Rubinho e eu fui trabalhar em uma grande confeitaria onde estou até hoje.

—Quer dizer que se você e teu filho desaparecerem ninguém da família vai procurar.

—Se nós desaparecermos creio que ninguém vai perceber.

—Você é uma mulher batalhadora, por isso teu filho parece tão responsável.

—O Rubinho fala muito da senhora.

—Espero que você não se importe de eu dar o dinheiro do ônibus só para ele poder ficar um pouco mais me fazendo companhia. Sou uma velha muito solitária.

No dia seguinte quando Rubinho visitou Dona Clotilde, perguntou a ela:

—Por que aquele moço filho da sua amiga fica me vigiando?

—Como assim te vigiando?

—Agora vejo ele em vários lugares, já o vi até perto da minha casa.

—Assim que o ver vou falar com ele. Quero te perguntar uma coisa Rubinho, tua mãe ou na escola examinam tua cabeça para ver se tem piolhos?

—Minha mãe vê as vezes, mas agora faz tempo que não olha.

—Posso dar uma olhada?

—Claro vovó.

Enquanto fingia que verificava se Rubinho estava com piolhos, sem que ele percebesse, ela pegou uma pequena tesoura e cortou um tufo dos seus cabelos. 

Quando Rubinho foi embora Dona Clotilde pensou “Se tudo der certo como eu espero, em breve a vida do Rubinho não será mais a mesma”.

Foram necessárias mais duas semanas até que o laboratório concluísse os testes requisitados por Dona Clotilde, e mais um mês para ela conseguir toda a documentação que precisava. Finalmente ela estava pronta para agir, mas seus planos ainda tinham que esperar mais alguns dias por causa de um imprevisto.

Naquela sexta feira Rubinho ainda não tinha vendido todos os jornais quando aquele mesmo rapaz que o vigiava há dias se aproximou dizendo:

—Dona Clotilde precisa de você com urgência, vá até a casa dela agora.

—Sem pensar duas vezes Rubinho pediu para a moça do trailer que vendia cachorro quente guardar seu caixote e os jornais restante e correu para casa de Dona Clotilde. Quando lá chegou Rubinho se assustou ao ver uma ambulância parada em frente.

Logo que entrou na casa, Rubinho viu dois enfermeiros colocando Dona Clotilde em cima de uma maca, e ela quase sem voz ainda conseguiu dizer:

—Rubinho, pegue uma chave que tem naquela gaveta, depois que eles me levarem desligue o gás, apague as luzes, tranque a casa  e volte para tua casa. Quero também te pedir que venha a cada três dias regar minha planta. Você também precisa fazer uma coisa muito importante, pegue... E antes que ela concluísse a frase foi acometida por uma forte tosse que lhe tirou o fôlego, obrigando os socorristas a colocarem nela uma máscara de oxigênio e a levarem imediatamente para a ambulância.

Rubinho estava confuso, mesmo assim fez o que ela pediu, desligou o gás, apagou as luzes, trancou a casa e foi embora. Quando chegou em casa e narrou a sua mãe o ocorrido, Rubinho chorou sabendo que Dona Clotilde estava doente. Contou também para a mãe que ela queria dizer mais alguma coisa, mas não conseguiu porque começou a tossir muito e foi levada para a ambulância.

Quando retornou na segunda feira para regar a planta da Dona Clotilde, Rubinho se surpreendeu ao vê-la sentada na poltrona do canto da sala tendo ao seu lado o mesmo rapaz que o vinha vigiando há dias. 

—Vovó. A senhora já voltou—, disse Rubinho caminhando em direção a ela com os braços abertos, e se surpreendeu quando ela quase gritando levantou a mão dizendo:

—Pare aí mesmo, não se aproxime. Os médicos me proibiram de chegar perto de alguém além da pessoa que está cuidando de mim.

—Tudo bem vovó, vou me sentar no sofá e a gente conversa um pouco, depois vou embora.

—Antes de ir para o hospital eu devia ter feito uma coisa, mas não deu tempo, e preciso que você faça isso agora.

—O que quer que eu faça vovó?

—Pegue na gaveta da estante uma caneta e um bloco de papel e escreva um bilhete que vou mandar para tua mãe. Na mesma gaveta tem um pouco de dinheiro, pegue tudo para poder pagar o taxi que vai te levar até a confeitaria onde tua mãe trabalha.

Rubinho pegou o papel e a caneta, ajoelhou no chão ao lado da mesinha de centro onde colocou o papel dizendo: — Pode ditar o bilhete Vovó.

“Ester. Não gostaria que as coisas fossem feitas desta forma, mas tive uma forte crise de uma doença que carrego há anos e fui parar no hospital antes que você soubesse toda verdade a meu respeito. Te peço que saia do trabalho agora e vá até minha casa. Eu não estarei lá, mas o Rubinho tem a chave e vocês podem entrar. Dei dinheiro para o Rubinho pegar um taxi, e se ele fez como pedi o taxi deve estar te esperando em frente a confeitaria.

Na porta debaixo da estante da sala tem uma maleta, e dentro dela uma carta que eu escrevi na manhã daquele mesmo dia em que fui internada. Tem também vários documentos e o telefone do meu advogado. Por favor, veja tudo com muita atenção pois teu futuro e o de Rubinho dependem daqueles documentos.  Um abraço – Clotilde.”

—Pronto vovó, está escrita.

—Agora, guarde esse bilhete no bolso, telefone para o ponto de taxi e peça para falar com o taxista Anderson, se ele não tiver lá peça para falar com o Antônio, os dois são de minha confiança. Vá de taxi até a confeitaria onde tua mãe trabalha, peça para o motorista te aguardar e entregue o bilhete para ela.

Quando Rubinho chegou de taxi na confeitaria e mostrou para a mãe o bilhete ela ficou muito nervosa dizendo que não podia abandonar o trabalho naquela hora, mas Rubinho insistiu tanto que a gerente da loja a dispensou pelo resto do dia.

Já no taxi Ester disse a Rubinho:

—Quero que você me explique isso direitinho. Porque me tirou do trabalho e quem vai pagar este taxi?

—Mãe. Lembra-se que eu falei que a vovó Clotilde estava internada?  Quando cheguei na casa dela hoje, ela estava sentada na poltrona e do lado dela estava aquele moço que lhe falei. Ela disse que não era para eu chegar perto dela e pediu para pegar uma caneta e escrever o bilhete. Pediu para pegar dinheiro na gaveta para pagar o taxi e até deu o nome dos motoristas de confiança dela.

Nesse momento o motorista do taxi comentou:

—O garoto tem razão, a dona Clotilde já tinha me falado dele e pediu que se ele precisasse usar meu taxi depois ela pagaria a corrida.

—O que essa mulher está querendo? — Comentou Ester mais para si mesma do que para os outros.

Quando chegou na casa de Dona Clotilde, Ester foi até a porta na estante pegou a maleta e a abriu, dentro dela haviam diversos documentos, algumas fotos e mais uma carta de Dona Clotilde.

“Ester. Queria que o que eu tenho a te dizer fosse dito em um clima de festa, mas hoje me senti muito mal, e depois de escrever esta carta e juntar todos os documentos vou chamar uma ambulância para me levar ao hospital. Eu já deveria ter sido internada há mais tempo, mas preferi esperar até ter certeza do que vou te falar.

Você acredita em espíritos se comunicando com os vivos? Porque se não acredita e melhor começar a acreditar.

Há onze anos eu tinha um filho, um jovem rapaz inteligente e muito amoroso. Um dia meu filho chegou em casa dizendo que tinha uma namorada que amava muito, e essa garota estava grávida. Ele sabia que os pais dela não aceitariam uma gravidez antes do casamento, então decidimos que nesse caso ela poderia vir morar na nossa casa. Naquela tarde meu filho decidiu trazer a namorada para que eu a conhecesse.   Quando meu filho foi buscar a garota, assim que pegou a estrada uma carreta desgovernada bateu no carro dele. Meu filho não sobreviveu ao acidente e desde aquela data procuro a garota que poderia estar carregando no seu ventre meu neto ou minha neta.

Quando o Rubinho entrou na minha casa pela primeira vez e viu a foto do meu filho na estante, disse que foi ele  quem pediu para que o Rubinho me ajudasse. Quase entrei em choque, mas decidi desvendar aquele mistério.

Fui até tua casa, ouvi tua história e a cada dia mais me convencia que meu filho era o pai do Rubinho. Sem que Rubinho percebesse, cortei um tufo dos seus cabelos e mandei fazer um teste de DNA onde ficou comprovado que teu filho é meu neto.

Estou indo para o hospital, não sei se vou sobreviver, nessa pasta estão todos os exames que comprovam que Rubinho é meu neto. Não tenho outros parentes, então na pasta tem também um testamento deixando tudo o que é meu para teu filho, ficando todos os bens sob tua guarda até ele atingir a maioridade. Junto com os documentos tem o cartão do meu advogado, caso eu não sobreviva telefone para ele tomar todas as providencias, inclusive a transferência de tudo que tenho no banco para você. Se eu morrer tome posse da casa imediatamente, porque se a documentação demorar muito a casa pode ser invadida ou delapidada. Daqui a pouco quando o Rubinho vir me ver vou entregar a ele essa maleta com os documentos e depois sigo para o hospital. Veja as fotos do meu filho. Não é o mesmo rapaz por quem você se apaixonou? Mostre as fotos para o Rubinho e ensine-o a chama-lo de pai.”

Ester estava chocada. Imediatamente telefonou para o hospital perguntando por Dona Clotilde, a atendente foi enfática.

—Graças a Deus que alguém está perguntando por ela! Na sexta feira essa paciente já chegou morta neste hospital. Há três dias estamos tentando sem sucesso descobrir algum familiar.