O Jardim Secreto da Felicidade
A felicidade, dizem, mora nos
detalhes — mas ela nunca fez questão de endereço fixo. Às vezes, aparece na
ponta do pão quente passado na manteiga. Outras, esconde-se no silêncio de uma
tarde de domingo em que ninguém cobra nada, nem o tempo.
A gente cresce achando que a
felicidade é um troféu — mas, com o tempo, percebe que ela se parece mais com
um cobertor velho, desses que não são bonitos, mas aquecem. Ela não grita;
sussurra. Não chega de salto alto — entra descalça, pé ante pé, e só se nota
quando já está sentada ali, no sofá da sala, tomando café com você. Como bem
expressou a poetisa Cecília Meireles, "A felicidade não está na chegada,
mas no caminho." É nesse caminhar despretensioso que a encontramos.
O pessimista insiste que a
felicidade não existe, que o que colecionamos são simples instantes luminosos.
Talvez lhe falte poesia nos olhos: ele confunde felicidade com alegria,
infelicidade com tristeza. Eu também me alegro quando meu time ganha no domingo,
vibro, grito, mas isso é só espuma que logo se desfaz. Se por dentro não vivo
em paz comigo mesmo, nenhum gol vai me fazer feliz. Do mesmo modo, quando a
morte leva alguém querido, sinto a tristeza do vento frio atravessar a casa —
mas não me declaro infeliz.
A felicidade verdadeira não desaba
só porque chove sobre o telhado; ela vive no alicerce. Quem se sabe inteiro
suporta as chuvas e conserva o lume aceso, ainda que a noite seja longa.
Lembro-me dos versos de Fernando Pessoa, que sob o heterônimo de Alberto
Caeiro, nos diz: "Há bastante metafísica em não pensar em nada." A
felicidade, por vezes, reside nesse despojamento, nessa aceitação da
simplicidade da existência.
Felicidade, então, talvez seja
isso: um lastro silencioso que me permite celebrar sem depender do placar e
lamentar sem cair no abismo. É poder dizer “está doendo, mas sigo”, ou “estou
radiante, e permaneço”. É caminhar sabendo que, seja qual for a estrada, o
peregrino não se perde de si. É a quietude de um rio que segue seu curso, mesmo
diante das pedras, como sugere o poeta Mário Quintana: "Alegria de viver:
o rio segue seu curso, o tempo não para, e a vida continua a ser bela."
A Jornada das Escolhas
A vida é feita de escolhas. E nem
sempre as placas estão visíveis. Ao longo do meu caminho, na maioria das vezes,
fiz o que considerei certo — e muitas dessas decisões, olhando agora com a
calma dos anos, ainda me parecem sábias. Mas como não sou perfeito — e graças a
Deus por isso — também errei, tomei desvios, abracei caminhos que pareciam
promissores, mas acabaram em silêncio ou espinho. O que me salva, talvez, é
essa teimosia calma de voltar atrás, de corrigir o rumo sempre que percebo a
curva errada. Não carrego orgulho tolo; carrego vontade de continuar.
Afinal, como disse um dos maiores
gênios da humanidade, o doutor Albert Einstein: “Uma pessoa que nunca cometeu
um erro jamais tentou nada novo.” E eu, nas mais de sete décadas de vida, venho
tentando. Um passo diferente aqui, uma ideia ali, uma nova maneira de amar, de
aprender, de estar no mundo. Não tento para provar algo a alguém, mas porque
viver, para mim, sempre foi movimento. E enquanto há movimento, há busca. E
enquanto há busca — há uma forma de felicidade possível. Porque no fim, a
felicidade não é um ponto de chegada, mas um jeito de ir. Ela é a própria
jornada, com suas curvas e retas, seus altos e baixos, um constante fluxo, como
a vida mesma.
Dinheiro e Felicidade: Uma Reflexão
E o dinheiro, pode ou não trazer
felicidade? Certa vez, me fizeram essa pergunta em uma roda de amigos. Não
respondi de imediato. Preferi o silêncio — e depois, contei histórias. Citei
quatro pessoas conhecidas no mundo inteiro, celebridades cercadas de fama,
prestígio e fortuna. Não direi seus nomes, por respeito à memória e ao legado
que deixaram, mesmo em meio à dor. Uma morreu de overdose de cocaína, apesar da
conta bancária milionária. Outra tirou a própria vida, sozinha, mesmo quando
seu nome foi inscrito em nossa história como o grande inventor que foi. Outras
duas partiram lentamente, envoltas em psicotrópicos legais, antidepressivos e
remédios caros receitados por médicos renomados — mas que não curavam a alma.
A pergunta, então, ecoa com mais
força: o dinheiro trouxe felicidade a essas pessoas? A resposta, creio, está
menos no saldo bancário e mais no saldo da alma. O dinheiro pode comprar
conforto, segurança, tempo, acesso. Pode aliviar dores práticas, abrir portas,
oferecer possibilidades. Mas ele não sabe curar ausências, não consola no luto,
não abraça em noites difíceis. O dinheiro pode muito — mas não pode tudo. Não
se compra um olhar sincero, nem uma gargalhada que vem do ventre. Não se
encomenda paz interior por delivery. A felicidade verdadeira não tem
código de barras. E talvez seja por isso que tantos ricos se perdem tentando
comprá-la — e tantas pessoas humildes a encontram sem perceber. Como sabiamente
observou Carlos Drummond de Andrade: "A felicidade é a gente que faz. Não
é um estado, é uma conquista." E essa conquista, muitas vezes, não exige
cifrões, mas sim um espírito livre.
Felicidade Compartilhada e o Jardim
do Amor
"Minha felicidade depende das
outras pessoas?" Acredito que não. A felicidade verdadeira nasce de dentro
— mas, sim, pode ser compartilhada, ampliada, somada. No meu caso, tive a sorte
de encontrar uma parceira de vida que me completa. Costumo dizer que, além do
amor que nos une, somos amigos, amantes e cúmplices. Juntos, construímos, dia
após dia, aquilo que muitos chamam de felicidade. Se nossa felicidade
dependesse exclusivamente dos outros, talvez jamais a alcançássemos. Lembro bem
de quando nos conhecemos: não tínhamos muito em comum, exceto por nossas
histórias familiares conturbadas — e talvez isso tenha sido o primeiro elo.
Alguns chegaram a dizer que nosso casamento não duraria um ano.
Mas hoje, com orgulho e serenidade,
já celebramos nossas Bodas de Ouro, e seguimos firmes, lado a lado, rumo às
Bodas de Diamante. Entre tropeços e conquistas, aprendemos que o amor não
precisa ser perfeito — apenas verdadeiro, disposto, resiliente. Estávamos
apaixonados quando nos casamos? Com certeza, não. Mas estávamos diante de um
terreno árido, visualizando, juntos, o jardim que tanto sonhávamos. Lado a
lado, capinamos o mato alto das desilusões, removemos pedras de desconfiança,
afastamos o lixo emocional que o passado insistia em nos impor. Plantamos mudas
de confiança, de apoio. Semeamos amor — nas palavras, nos gestos, no carinho
diário.
Regamos com fé e esperança.
Cuidamos. Arrancamos as ervas daninhas que, vez ou outra, tentavam sufocar
nossas raízes. E, aos poucos, nosso jardim começou a florir. Uma flor brotou na
palavra doce dita ao acaso, outra no abraço silencioso depois de um dia
difícil, outra ainda em um beijo fora de hora, sem motivo, só por amor. Hoje, o
nosso jardim floresce. E ele não é perfeito — mas é real, é nosso. É nele que
firmamos as bases da nossa felicidade, afinal, a maior das bases para a
felicidade é o amor. Pois, como nos ensina a sabedoria milenar de Paulo de
Tarso: "O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria,
não se orgulha. Não maltrata, não procura os seus interesses, não se ira
facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se
alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor
jamais acaba."
É com esse tipo de amor, plantado e
cultivado com persistência, que a felicidade se torna duradoura e verdadeira.
É nesse terreno fértil que a
felicidade encontra seu lar mais verdadeiro, um lugar onde a imperfeição se
torna beleza e a simplicidade, um tesouro.
E você, tem cultivado seu jardim da
felicidade?