julho 2025 - S. Esteves

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domingo, 6 de julho de 2025

Ecos da crueldade

julho 06, 2025

 

A saga de Sofia, uma alma que buscou amor e encontrou espinhos.

Na noite de núpcias, o véu da esperança rasgou-se diante da garrafa, revelando um marido cativo do álcool, e um futuro banhado em sombras. A voz da sogra, viúva de um militar, reverberava em fanatismo, envenenando cada instante com a condenação de sua origem de esquerda, um eco amargo de um pai ausente.

Grávida e vulnerável, Sofia via-se compelida a trabalhar incansavelmente, amparando um lar onde o desemprego do marido era constante, e cada centavo se esvaía em bebida. A vida tecia-lhe uma teia de dores, e o golpe mais cruel veio quando a sogra, num ato de pura maldade, fugiu para Portugal, levando consigo a pequena filha de Sofia. O oceano, que deveria separar terras, separou também um amor materno, deixando uma cicatriz profunda, a dor de uma filha irrecuperável.

As agressões do marido foram o ponto final, a linha tênue que se rompeu, decretando o fim de um casamento que nunca deveria ter começado. Mas das cinzas, Sofia ressurgiu. Com a resiliência de um broto que fura o asfalto, ela trabalhou e estudou incansavelmente, talhando seu próprio destino, até se tornar uma estilista de renome, tecendo a beleza onde antes só havia desalento.

Anos mais tarde, o destino, em sua ironia, orquestrou um reencontro com a filha já adulta. Porém, o abraço esperado transformou-se em mais uma ferida. Envenenada pelas palavras da avó, a filha desferiu a ela crueldade em vez de carinho, ferindo-a no mais íntimo da alma.

Contudo, a melodia de Sofia não terminaria em lamento. Encontrou um novo amor, um bom homem, chef de cozinha e dono de restaurante, que trouxe doçura à sua vida. Juntos, construíram não apenas um lar, mas um legado de esperança, fundando uma ONG que oferece cursos de corte e costura e culinária para mulheres de baixa renda. Assim, a dor se transformou em ponte, e a crueldade do passado, em um farol de empoderamento. 

O que o destino ainda guarda para Sofia? Será que as mãos do tempo, por fim, tecerão o fio do amor perdido, resgatando a filha da escuridão que a envolve?

 

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O Jardim Secreto da Felicidade

julho 06, 2025

 

O Jardim Secreto da Felicidade

A felicidade, dizem, mora nos detalhes — mas ela nunca fez questão de endereço fixo. Às vezes, aparece na ponta do pão quente passado na manteiga. Outras, esconde-se no silêncio de uma tarde de domingo em que ninguém cobra nada, nem o tempo.

A gente cresce achando que a felicidade é um troféu — mas, com o tempo, percebe que ela se parece mais com um cobertor velho, desses que não são bonitos, mas aquecem. Ela não grita; sussurra. Não chega de salto alto — entra descalça, pé ante pé, e só se nota quando já está sentada ali, no sofá da sala, tomando café com você. Como bem expressou a poetisa Cecília Meireles, "A felicidade não está na chegada, mas no caminho." É nesse caminhar despretensioso que a encontramos.

O pessimista insiste que a felicidade não existe, que o que colecionamos são simples instantes luminosos. Talvez lhe falte poesia nos olhos: ele confunde felicidade com alegria, infelicidade com tristeza. Eu também me alegro quando meu time ganha no domingo, vibro, grito, mas isso é só espuma que logo se desfaz. Se por dentro não vivo em paz comigo mesmo, nenhum gol vai me fazer feliz. Do mesmo modo, quando a morte leva alguém querido, sinto a tristeza do vento frio atravessar a casa — mas não me declaro infeliz.

A felicidade verdadeira não desaba só porque chove sobre o telhado; ela vive no alicerce. Quem se sabe inteiro suporta as chuvas e conserva o lume aceso, ainda que a noite seja longa. Lembro-me dos versos de Fernando Pessoa, que sob o heterônimo de Alberto Caeiro, nos diz: "Há bastante metafísica em não pensar em nada." A felicidade, por vezes, reside nesse despojamento, nessa aceitação da simplicidade da existência.

Felicidade, então, talvez seja isso: um lastro silencioso que me permite celebrar sem depender do placar e lamentar sem cair no abismo. É poder dizer “está doendo, mas sigo”, ou “estou radiante, e permaneço”. É caminhar sabendo que, seja qual for a estrada, o peregrino não se perde de si. É a quietude de um rio que segue seu curso, mesmo diante das pedras, como sugere o poeta Mário Quintana: "Alegria de viver: o rio segue seu curso, o tempo não para, e a vida continua a ser bela."

A Jornada das Escolhas

A vida é feita de escolhas. E nem sempre as placas estão visíveis. Ao longo do meu caminho, na maioria das vezes, fiz o que considerei certo — e muitas dessas decisões, olhando agora com a calma dos anos, ainda me parecem sábias. Mas como não sou perfeito — e graças a Deus por isso — também errei, tomei desvios, abracei caminhos que pareciam promissores, mas acabaram em silêncio ou espinho. O que me salva, talvez, é essa teimosia calma de voltar atrás, de corrigir o rumo sempre que percebo a curva errada. Não carrego orgulho tolo; carrego vontade de continuar.

Afinal, como disse um dos maiores gênios da humanidade, o doutor Albert Einstein: “Uma pessoa que nunca cometeu um erro jamais tentou nada novo.” E eu, nas mais de sete décadas de vida, venho tentando. Um passo diferente aqui, uma ideia ali, uma nova maneira de amar, de aprender, de estar no mundo. Não tento para provar algo a alguém, mas porque viver, para mim, sempre foi movimento. E enquanto há movimento, há busca. E enquanto há busca — há uma forma de felicidade possível. Porque no fim, a felicidade não é um ponto de chegada, mas um jeito de ir. Ela é a própria jornada, com suas curvas e retas, seus altos e baixos, um constante fluxo, como a vida mesma.

Dinheiro e Felicidade: Uma Reflexão

E o dinheiro, pode ou não trazer felicidade? Certa vez, me fizeram essa pergunta em uma roda de amigos. Não respondi de imediato. Preferi o silêncio — e depois, contei histórias. Citei quatro pessoas conhecidas no mundo inteiro, celebridades cercadas de fama, prestígio e fortuna. Não direi seus nomes, por respeito à memória e ao legado que deixaram, mesmo em meio à dor. Uma morreu de overdose de cocaína, apesar da conta bancária milionária. Outra tirou a própria vida, sozinha, mesmo quando seu nome foi inscrito em nossa história como o grande inventor que foi. Outras duas partiram lentamente, envoltas em psicotrópicos legais, antidepressivos e remédios caros receitados por médicos renomados — mas que não curavam a alma.

A pergunta, então, ecoa com mais força: o dinheiro trouxe felicidade a essas pessoas? A resposta, creio, está menos no saldo bancário e mais no saldo da alma. O dinheiro pode comprar conforto, segurança, tempo, acesso. Pode aliviar dores práticas, abrir portas, oferecer possibilidades. Mas ele não sabe curar ausências, não consola no luto, não abraça em noites difíceis. O dinheiro pode muito — mas não pode tudo. Não se compra um olhar sincero, nem uma gargalhada que vem do ventre. Não se encomenda paz interior por delivery. A felicidade verdadeira não tem código de barras. E talvez seja por isso que tantos ricos se perdem tentando comprá-la — e tantas pessoas humildes a encontram sem perceber. Como sabiamente observou Carlos Drummond de Andrade: "A felicidade é a gente que faz. Não é um estado, é uma conquista." E essa conquista, muitas vezes, não exige cifrões, mas sim um espírito livre.

Felicidade Compartilhada e o Jardim do Amor

"Minha felicidade depende das outras pessoas?" Acredito que não. A felicidade verdadeira nasce de dentro — mas, sim, pode ser compartilhada, ampliada, somada. No meu caso, tive a sorte de encontrar uma parceira de vida que me completa. Costumo dizer que, além do amor que nos une, somos amigos, amantes e cúmplices. Juntos, construímos, dia após dia, aquilo que muitos chamam de felicidade. Se nossa felicidade dependesse exclusivamente dos outros, talvez jamais a alcançássemos. Lembro bem de quando nos conhecemos: não tínhamos muito em comum, exceto por nossas histórias familiares conturbadas — e talvez isso tenha sido o primeiro elo. Alguns chegaram a dizer que nosso casamento não duraria um ano.

Mas hoje, com orgulho e serenidade, já celebramos nossas Bodas de Ouro, e seguimos firmes, lado a lado, rumo às Bodas de Diamante. Entre tropeços e conquistas, aprendemos que o amor não precisa ser perfeito — apenas verdadeiro, disposto, resiliente. Estávamos apaixonados quando nos casamos? Com certeza, não. Mas estávamos diante de um terreno árido, visualizando, juntos, o jardim que tanto sonhávamos. Lado a lado, capinamos o mato alto das desilusões, removemos pedras de desconfiança, afastamos o lixo emocional que o passado insistia em nos impor. Plantamos mudas de confiança, de apoio. Semeamos amor — nas palavras, nos gestos, no carinho diário.

Regamos com fé e esperança. Cuidamos. Arrancamos as ervas daninhas que, vez ou outra, tentavam sufocar nossas raízes. E, aos poucos, nosso jardim começou a florir. Uma flor brotou na palavra doce dita ao acaso, outra no abraço silencioso depois de um dia difícil, outra ainda em um beijo fora de hora, sem motivo, só por amor. Hoje, o nosso jardim floresce. E ele não é perfeito — mas é real, é nosso. É nele que firmamos as bases da nossa felicidade, afinal, a maior das bases para a felicidade é o amor. Pois, como nos ensina a sabedoria milenar de Paulo de Tarso: "O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura os seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acaba."

É com esse tipo de amor, plantado e cultivado com persistência, que a felicidade se torna duradoura e verdadeira.

É nesse terreno fértil que a felicidade encontra seu lar mais verdadeiro, um lugar onde a imperfeição se torna beleza e a simplicidade, um tesouro.

E você, tem cultivado seu jardim da felicidade?

 

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